Desde pequeno, sempre me mandaram ouvir “a voz do coração”. Nunca hesitei em seguir esse conselho. Na quietude da noite, lhe escuto. E ele só bate na porta do meu peito e pergunta:
- Tem alguém aí fora?
Desde pequeno, sempre me mandaram ouvir “a voz do coração”. Nunca hesitei em seguir esse conselho. Na quietude da noite, lhe escuto. E ele só bate na porta do meu peito e pergunta:
- Tem alguém aí fora?
No meu velho vício de escrever textos e poesias, nunca, nem sequer no instante de uma rápida reflexão, esperei redigir uma história infantil. O curioso dessas narrativas não consiste exatamente nas suas mensagens, mas na forma como essas mensagens são cuidadosamente elaboradas por seus escritores (em uma tentativa desesperada de, um dia, se tornarem novamente criança).
FIM
Aos carrascos que me amaram e aos juizes que fizeram de mim um monstro, dedico a minha primeira história infantil
Aqui acaba o meu dia de ontem. O sol que me põe para dormir despertará uma data que demorarei a perceber. As estrelas que contava para te encontrar sumiram na claridade, tornaram-se invisíveis de tão evidentes e iluminadas. A lua agora viaja para um lugar qualquer, apressada para tornar insano tantos outros insones que só pensam em não ser. Quando você acordar estarei bocejando um sono leve, o sono inseguro dos amantes inquietos. Espero não chegar novamente atrasado para te desejar bom dia. Que ele o seja, ainda que (e talvez porque) sem mim.
Para aquela que, dentro de mim, adormece (mas acorda sozinha)
Estive pensando na saudade que sinto de ti. Vivemos bons momentos juntos. Será que agora sentimos medo um do outro? Até pouco tempo não precisava te convidar para uma visita. Éramos como dois grandes amigos. Lembro da última vez que viesses dormir aqui em casa, ao meu lado, me vendo levantar da cama para procurar algo que nunca encontro na geladeira vazia. Eu ia ao banheiro e mirava aquele espelhinho que tu me desses de presente. Sempre me assustei ao ver nele a tua imagem refletida, no lugar da minha. Largava de súbito o objeto e olhava novamente para te observar mudar tantas vezes de corpo, até se transformar no meu que, enfim, podia chorar. Ao voltar para cama, me cantavas algumas canções de ninar e eu adormecia tranqüilo em teus braços. Logo depois, o dia amanhecia. E eu me sentia tão criança quando tentava ficar acordado até a hora de você ir embora, te vigiando para que não fugisses sem despedida, assim como sempre fazia o mal-educado papai noel nas tristes noites natalinas.
Quero, ainda, justificar a minha mais recente ausência. Estive com uma amiga no último sábado. Talvez você também a conheça. Assistimos um filme, conversamos sobre coisas banais. Nos pediram para fazer silêncio, algumas vezes. Eu também faria o mesmo. Sorrimos, gargalhamos. Quando não tínhamos mais motivos, fazíamos cócegas. Ela se foi e eu fiquei, porém, sem ti. Para onde ela terá ido? Não sei. Se você a encontrar, pergunte como foi seu dia, abrace-a, diga que a amo. Não tenha ciúmes porque com ela te traí. Ela saberá, também, te fazer companhia.
Para uma menina linda.